quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Um pouco de mim morre todos os dias


 Um pouco de mim morre todos os dias.
Inevitável e rotineiramente, como a chuva que cai.

A vida é assim, uma sequência de eventos ordinários.
Que unem-se como os fios daquelas senhoras gregas, que tecem a vida.
Ou assim dizia o mito.

Como a lágrima que chega ao chão.
Só chega ao chão porque algo a fez brotar.
Só chega ao chão porque escorreu sobre a face.
E não havia ninguém para enxugar.

Um pouco de mim morre todos os dias.

Como quando perco a paciência sem motivos.
Como quando me lembro do que fui.
E lembro de como queria ser.

Um pouco de ti morre em mim todos os dias.
Um outro pouco nasce também em mim.

A vida é um acumular de fatos e memórias.
E uma sucessão de pequenas mortes.

E se toda morte é uma revolução, porque exige uma mudança.
Então isso tudo, a vida, não é tão ruim assim...


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Em meio ao caos

Um sorriso no meio do caos, um caos que se formou em torno do riso, a memória de outrora, a lágrima que cobriu a razão de se perder em qualquer abismo e a profusão de lembranças sem sentido no meio do vazio que sobrou do que um dia me fez rir.

Levanto atônito, onde fui parar?

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

History is for fools


Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido. 
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota. 
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados. 
Até a vida só desejada me farta - até essa vida... 




Foto: Victor Amatucci

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Tic-Tic

Foto: Edward Zulawski

The sun is the same, in a relative way
But you're older
Shorter of Breath and one day closer to death


É rapidez, é confusão, é multidão, é turbilhão.
É silêncio, é escuro, é limpo e é sujo.
É um som, é um ruído, é um mosquito.
E zomba.

Quem foi que disse que era para ser assim?
Quem foi que disse que era para ser o contrário disso?
Quem foi que disse, afinal? 
Quem foi?

Quem foi?
Quem foi que disse, afinal?
Quem foi que disse que era para ser o contrário?
Quem foi que disse que não era o contrário?

É surdez e barulho.
É um grito de um mudo.
É um sussuro, esganiçado.
E zomba

É uma página vazia, frente a um lápis.
É uma caixa lacrada, frente a uma faca.
É uma ampulheta que aos poucos se acaba.
E zomba.

Quem foi que disse que era pra escrever?
Quem foi que pensou o que foi escrito?
Quem vai escrever o que se pensará amanhã?
Quem é que se sente realizado, afinal?

And then one day you find 
Ten years have got behind you 
No one told you when to run 
You missed the starting gun

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Eu também sei que não devia...


Eu também sei, Marina, que a gente não devia. Mas de vez em quando eu até torço...

Eu também sei, Marina, que a gente não devia. Mas não olhar para fora, vez em quando, é alívio, fuga boa, Pasárgada particular (e alguma é compartilhada?).

Eu também sei, Marina, que a gente não devia. E vez em quando me lembro daquele sorriso que deixei em algum lugar, com um outro eu que ficou não sei bem onde... Perdido entre o que fui e o que queria ser...

Mas eu abro os olhos, Marina, com vontade de fechá-los. Sem vontade, se calhar. Ou se não calhar. A chuva também cai, não sou só eu quem saiu daquele pedestal gostoso que chamam de utopia, foi ?

Vai ver que é esse céu que teima em ficar cinza, com um ar de chumbo, a voz daquela lembrança dizendo plúmbeo, o eu-pequeno rindo do contorcionismo da língua para falar: plúmbeo.

Onde foi que perdemos a capacidade de rir das coisas simples, Marina ?

Será que foi imposição ou vontade de ser grande? Por que não contam a verdade para as crianças, Marina? Que esse negócio de crescer não é lá essas coisas ?

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Tá difícil, Marina. Tá difícil acostumar... Mas eu devia.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

É tudo parte do acordo.


A luz vem como um tsunami, um furacão, uma enchente. Vem como um desastre destes que chamam de natural.

Mas os olhos doem. Os olhos não pensam, não raciocinam. Não há como explicar aos olhos a racionalidade de se abrirem. Eles entendem a insônia, o cansaço, meia dúzia de lágrimas, o arder do Sol. Mas não há como explicar a violência da invasão de cores que ninguém pediu para existir.

Os olhos apenas doem.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um caminho para sair de si


Imagino uma biblioteca, cheia de estantes, melhor seria imaginar cheia de livros. Imagino uma biblioteca cheia de livros, pesados, profundos.

E cada livro representa. Nada. Cada livro é um livro, cada história um sentimento, cada sentimento uma dor e, talvez também um ou outro sorriso. Cada livro uma leitura, todas incompletas. Mas qual o sentido de ler, quando sabemos o final?!

O prazer da leitura, dirá o outro.

E a pessoa que lê faz analogias, tudo besteira. A escrita é literal, não resta outra alternativa.

E o passado vai ficando para trás, exatamente como o texto que é escrito, sem pensar, sem revisar, sem conteúdo, sem nada. E o nada, afinal, é uma biblioteca fechada.