De quando a gente se sente um merda.

Um merda. É o tipo de coisa nunca dizemos sobre nós mesmos. A pessoa pergunta: "Quem é você?" E nós nunca sabemos exatamente o que é que a pessoa quer saber... Se é algo profundo, filosófico ou se simplesmente é um "Como você conseguiu meu MSN?". A coisa, de fato, varia.

"Sou um merda". Em geral não damos essa resposta... Mas é como tenho me sentido ultimamente. Exceto, é claro, por uma ou outra exceção que não passa duns dois ou três segundos. 

Dane-se, está a pensar o leitor... E assim é a vida...

Quando eu tinha 15 anos me orgulhava de trabalhar e ter o meu dinheiro, além da mesada. Depois, aos 18, me orgulhei de ter entrado na universidade. Aos 19 o orgulho foi ter conseguido, como estagiário, ir morar sozinho. Aos 21 me orgulhei de ter sido premiado pela Câmara dos Vereadores de São Paulo e me tornado cidadão ilustre de Marília. 

E quando ia me orgulhando sempre tinha uma voz pequena, no fundo d'alma, dizendo que "As flores do mal" foram escritas por um cara de 18 anos. Que o Robinho tinha mais na conta, aos 21 anos, do que eu terei em toda minha vida. 

"Ah, são exceções". E eu lá quero ser regra?!

Aos 25 já não sinto orgulho de trabalhar, nem de morar sozinho, tampouco de ter um título que nada vale. E dinheiro, continuo sem. Aos 25 já não faço as coisas que gosto, não confronto as ideias que discordo, não me coloco segundo o que penso, mas como preciso.

Já não sou regra nem exceção. Não sou um terço do que sonhei ser, nem metade do que queria. Não sou isso nem aquilo. Ao menos me resta o mestre, como um conselho:

  Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido. 
   Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota. 
   Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados. 
   Até a vida só desejada me farta - até essa vida... 
   Compreendo a intervalos desconexos; 
   Escrevo por lapsos de cansaço; 
   E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia. 
   Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;   

De fato não sei que rumos, que tédios, que destinos, que Tejo, me aguardam. Mas no momento, "Um merda".