quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O natal chegou (ou puta merda, virei bicha!).

 

Todo ano quando chega essa época maldita, essa coisa de Natal eu fico meio assim… digamos… veado. Acabo sempre me lembrando das pessoas que já se foram morreram e pensando em como raios eu pude de deixar de passar aquele último natal com eles.

Vai ouvindo aí, manolo.

Ao fim e ao cabo deve ser tudo culpa do ano de merda que passou. E sempre que acaba o ano a gente pensa a mesma coisa: “que ano de merda que passou!”.

Esse ano percebi que estava emboiolado quando fui embrulhar o presente da patroa. Eu sempre embrulho de última hora porque geralmente eu compro mil coisinhas pequenas com o intuito sovina de agradar mais gastando menos.

Nunca dá certo. Como eu compro várias coisas pequenas sempre paro e penso que comprei algo simples demais e compro mais coisa. Quando vou ver tenho um grupo de presentes que custou mais caro do que aquele presente caro que eu havia pensado inicialmente.

Mas mudei de assunto, então retorno.

Estava eu indo embrulhar o tal presente. Sempre fico a pensar que aqui em São Paulo, por ser cidade grande, não há aquelas lojinhas de interior que fazem embrulhos e só. Aqui você precisa comprar o presente e mandar embrulhar ou então comprar o papel e achar uma “Alma Boa de Setsuan” (é uma peça do Brecht, crianças…) que faça o tal do embrulho.

Pois bem, eu achei uma papelaria milagrosa – em pleno bairro caro e pseudo-chique onde por um milagre da natureza (e herança) se encontra a minha morada – que não cobra caro e faz ótimos embrulhos.

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Nesta papelaria trabalha um casal simpático. Enquanto eu esperava pela minha vez para que a mulher fizesse o meu embrulho o marido dela passou ao lado e disse: “Você vai cobrar pela obra de arte ou só vai cobrar o material que usou?!”.

A mulher abriu um sorriso enorme e os olhos dela brilharam (é bicha, eu sei) com o elogio. Foi aí que percebi: “o prazer dela é fazer embrulhos e ela faz como se fosse algo muito importante”.

Aí pensei: ‘que merda…se orgulhar de saber fazer embrulhos?!

E logo em seguida eu vi que o natal havia chegado.

Vi porque fiquei pensando: “e daí, sua besta?!”. A beleza da vida está mesmo nessas pequenas coisas.

Certamente o dono da loja, quando a mulher dele morrer, não se lembrará que deixou de fazer esse elogio. Certamente ele ficará triste, mas não vai ficar, como eu, lembrando do que deixou de dizer para as pessoas que deixaram de viver.

E um elogio a um embrulho é coisa que não fiz àquela que morreu, tão de repente. Podia eu ter ido até o hospital e desejar melhoras, com um cartão comprado na tal papelaria, e aquele sorriso ficaria menos doloroso hoje.

Enfim, é natal. Enfim é natal. É natal enfim. É natal, e fim.

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