Não gosto muito de Cecília Meireles, mas impossível não lembrar do poeminha famoso, usado no também famoso curta “Ilha das Flores” onde se mostra a realidade, dura, de catadores de lixo e pessoas que sobrevivem graças ao lixão de mesmo nome.
Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.
Tenho pensado muito a respeito disso aí. Esse treco que ninguém explica, essa coisa louca que todo mundo entende. Em quantos sentidos podemos ser livres? E o que é essa coisa de ser livre?
Aquele passarinho na gaiola, com toda certeza está preso. Mas está livre aquele outro, que sem gaiola experimenta voos curtos, porque o medo o impede de ir mais longe? Ou aquele outro que não experimenta voar porque já não há árvores onde se apoiar (#MarinaFeelings) ou aquele outro que voa e morre de tanto voar.
Ser livre é coisa que ninguém explica e ninguém entende. Mas todo mundo almeja. Ser livre é ser responsável diz o outro. Ser responsável é ter poder, digo eu mesmo. Ter poder é ser livre? Pergunto e não respondo. Porque tem pergunta cuja resposta é nenhuma. Pergunta que por si só basta. Sem precisar de enunciatário ou outro nome qualquer que a academia dê.
Tem a liberdade do Plínio, liberdade eleitoral de quem diz qualquer coisa porque sabe que não será levado a sério. Liberdade que se perde quando ele mesmo não se leva a sério. Tem a liberdade de imprensa (nem acredito que escrevi com ‘s’) que é livre sem ser. Que de livre só tem o potencial mas não tem no fato e na verdade, porque depende de vender jornal. Tem a liberdade do coração. A mais falsa das liberdades. Tem a liberdade que o carro dá, que acaba com a gasolina.
Tem liberdade poética, que permite que a gente erre. Tem liberdade de escolher o caminho certo, que não é lá muito livre porque todo mundo te xinga se você escolhe o errado. Liberdade demais para escolhas de menos.
Tem liberdade de fé embora não tenha fé com liberdade. Tem liberdade sexual, libertinagem. Tem liberdade quem vem com a idade. Tem liberdade que acaba com a idade. Tem liberdade que só existe na teoria e liberdade que só existe na prática.
Escolher é que é liberdade. Mas a escolha em si encerra todas as outras possibilidades. Coisa sem nexo essa tal liberdade.
Liberdade é autonomia, independência. Mas para ser autônomo e independente é preciso dinheiro. Para isso é preciso trabalhar. E para trabalhar… adeus liberdade.
Liberdade é audácia. Audácia é coragem. E coragem é saber que sua liberdade tem limite, nem que seja para quebrá-los. Mas se tem limite, liberdade não é. Não é livre.
Troço estranho essa tal liberdade.
2 comentários:
"Tem a liberdade do coração. A mais falsa das liberdades". Sempre um texto seu vem com uma frase que me faz ficar um tempo pensando. Hoje é essa.E teu texto só me faz pensar que a liberdade é uma ilusão.Todos pensamos que somos livres. Somos? sou livre para amar?Sou livre para ir embora quando a vida me dói? Sou livre para ter perto de mim só as pessoas que gosto? Já fui mais livre, concluo. Hoje as prisões dos outros corações põe cercas nos meus sentimentos. Nem declará-los mais eu posso.Prefiro então o silêncio dos pensamentos.Imune à dor, viajo por eles e lá, sim, sou livre.Beijo, lindo. Amo você,viu?E que bom que pra você posso dizer isso.
Acredito que a liberdade é uma utopia necessária da alma. Palavrinha mágica que todo mundo deslumbra. O sentido de liberdade deve ser algo próximo de capacidade de escolher. As escolhas, como você bem lembrou, implica em limitar as possibilidades.Contraditório? Aparentemente sim.
É que a tentativa de racionalizar essas coisas sempre acaba falha. A lógica dos sentimentos é outra. Não existe estado puro no campo das emoções: tá tudo misturado, cheio de contradições. O ser humano é essa imensidão de possibilidades e de facetas opostas. Tá aí a sua riqueza.
Seu texto me lembrou aquele filme "Into the wild" cuja história é baseada numa história real de uma cara que buscou se libertar de todas as amarras sociais em busca dessa tal de liberdade. Ele conclui que "happiness is only real when shared", ou seja, o ser humano é o bicho mais dependnete [do outro] que tem.
Deixa a lógica para os matemáticos...
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