segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Morar sozinho… Guerra e Paz…

                Eu sei lá quantos de vocês moram sozinhos. Sei menos ainda quantos de vocês estão lendo, juntar as duas características então… Mas, afinal, é por isso que defini este blog como meu psicólogo, escrevo este aqui para mim e assim será até o final. E não me venham as psicólogas de plantão analisar o post como quem me analisa que não é nada batuta. Ou façam em silêncio. Ok, chega de grosserias, desculpem-me.

                  Faz, aproximadamente, 5 anos que moro sem meus pais. Ambos moram na Grande São Paulo mas a galera sempre me pergunta se moro sozinho porque estão longe ou por qual motivo. Acho até graça, hoje em dia. Parece-me muito mais saudável morar sozinho, desde que com alguma dignidade, do que viver debaixo das asas dos nossos pais.

                         Claro que dá muito mais trabalho. Claro que há momentos nos quais eu me sinto mais solitário que o Prometeu / Wolverine (olha o drama, Caipira), mas, afinal, quem é que não se sente assim? O fato mais doloroso, para mim, talvez fosse o atraso que isso causa em minha carreira (sou ator, afinal), já que por conta disso preciso trabalhar e fazer a faculdade, adiando o sonho de atuar e viver disso, mas não dá para negar que boa parte do que sou vem dessa vontade de sair por aí, Like a Rolling Stone, vivendo, apenas.

prometeupb

                               Não há alegria maior do que chegar em casa, olhar ao teu redor e poder dizer com orgulho próprio (não empáfia, orgulho) e dizer: fui eu que conquistei essa merda toda. Por mais que seja merda. As dificuldades, no começo, são  as mais diversas, coisas que você jamais soube que precisava ser feito, até que foi morar sozinho.

                                Feira, por exemplo. Não há ninguém que faça por você. E você sabe escolher uma melancia? O Google ajuda nestas horas. Ou consertar a maldita pia que caiu por excesso de louça. Ou lavar a panela de feijão, que dá um nojinho… Coisas cotidianas, são sempre as primeiras a nos fazer perguntar: porque diabos resolvi sair de casa.

                                 E quando aquela cambada surge na tua casa, trazendo cerveja e movimento naquele domingão sem graça, aí você lembra porque valeu a pena. Até que você fica doente pela primeira vez, sozinho. E precisa ir você mesmo comprar aquele remédio besta de dor de cabeça porque não comprou quando estava bem. Claro, quem é que compra remédios quando está bem?

                                   Anos depois de morar sozinho ainda me pego pensando se foi realmente a melhor opção. E concluo que não há melhores opções (talvez a conclusão seja uma forma de amenizar a decepção, dirão as psicólogas de plantão…), há apenas as escolhas já feitas. E voltar seria, isto sim digo convicto, um retrocesso sem medidas.

                                   Notei também que tenho visto menos televisão, tenho ficado menos em casa, ao mesmo tempo em que o tempo em que fico em casa me revigora mais. E me lembro de uma frase que ouvi ao lado de uma amiga, que morou comigo, ao ver um filme (cujo título nunca me lembro, ela, se ler este post, comentará o nome do filme…):

“Quando a gente sai da casa dos nossos pais nunca mais sentimos aquela sensação de ‘lar-doce-lar’, nunca mais nos sentimos em casa de novo. Mesmo que voltemos à casa dos nossos pais. Acho que essa sensação só volta quando casamos e temos os nossos próprios filhos'”

                                  De fato, nunca mais me senti em casa…

                                  Sabe quando a gente é pequeno e fica pensando assim: quando eu tiver a minha casa minha mãe vai ver só uma coisa… Ou quando os nossos pais soltam: Você faz isso quando pagar sua própria conta até lá quem manda aqui sou eu… Contas… até isso tem seu lado bom…

                                  Outro dia mesmo mamãe soltou uma dessas. Aí começamos a rir e paramos de brigar. Está aí, o principal motivo que me fez sair de casa foi minha mãe e meu pai. Eles que me ensinaram que essa coisa de filhinho-de-papai-e-mamãe é um saco. Que a gente precisa ter as nossas coisas, nosso valor. Não é essa história de ‘o trabalho dignifica o homem’ isso aí é merda, besteira. É a coisa da criança pequena que olha para sua própria fezes e sorri, porque fez sem a ajuda de ninguém.

                                   A imagem mental pode até parecer ruim, mas eu sei o valor que as minhas bostas tem e danem-se as psicólogas ao me analisar neste momento. Eu sei o valor que tem comprar a madeira e fazer sua própria estante de livros em forma de ‘V’ simplesmente porque cabe mais livros e é ‘menos certinha’ assim. Ou de construir teu próprio ‘armário’ (há quem jure que não é…) porque não tinha grana à época para comprar um pronto.

                                   O valor de saber que a luz que você esqueceu acesa vai te dar bronca só na próxima conta e ninguém vai mandar você arrumar a cama muito embora a esta altura já não precisa ninguém mandar, você se sente compelido a fazê-lo. O prazer de saber que vai acordar com sono no dia seguinte porque resolveu beber com os amigos em plena terça-feira. Ou que resolveu não dormir.

                                  E isso tudo faz reconhecer o valor daquele lanche que os teus pais te fazem, embora seja quase impossível reconhecer isso enquanto vivemos com eles.

                                   Tudo isso para tentar negar o óbvio, a solidão não é fim de quem mora sozinho, o morar sozinho é que pode ser um meio para ela. Mas me sinto mais sozinho em meio às pessoas do que sem elas. Esse negócio de companhia é tão estranho, não é?! Sentir-se só, triste, desanimado, isso tudo não muda morando com teus pais ou sem eles. Você pode morar sozinho e sentir-se assim. Mas há sempre aquela pessoa que te liga preocupada porque você desmarcou com ela e sua voz não parece boa. E não insiste em perguntar o que houve, porque sabe que para uma dor, basta um abraço. Sem maiores porquês ou explicações de qualquer gênero.

                                    Tudo isso para dizer que a gente dá valor aos amigos, quando mora sozinho.

7 comentários:

Daniel disse...

Como amigo eu digo: BIXA!!!!!!!!!


ps: bonito texto!

Josy disse...

Que frase linda: "para uma dor, basta um abraço". Me dá um abraço?

Jaque disse...

O nome do filme é "Hora de voltar"...
E parafraseando nosso querido Pessoa:
Victor, ignoramos. Somos estrangeiros onde quer que estejamos.

Caipira Zé Do Mér disse...

Claro que dou um abraço!

Renata Winning disse...

Faltou nos aprendizados "você aprende a ver a diferença entre arruda e manjericão".

Gostei.

Marina disse...

Hey! Quanto rancor em relação às psicólogas (e existem também Os psicólogOs) de plantão!!! Eu, como uma representante delas, só posso me preocupar, e, partindo desses comentários todos a nosso respeito, me perguntar com que tipo de profissionais você tem se relacionado! Rs!

Gostei muito do seu post! Até porque veio muito a calhar, tenho pensado bastante sobre sair de casa... Me deu mais ânimo, muito embora, mesmo que eu consiga, não será por minhas próprias pernas, ainda precisarei de um apoio financeiro... Enfim, muitas questões a serem tratadas na terapia! Rs!

Bom, pelo que vi, você deve conhecer pelo menos um mínimo de Psicologia, por causa do comentário sobre sentir orgulho da própria bosta! Saiba que, análises à parte, é muito saudável sentir orgulho delas! O problema é não conseguir dar a descarga!

"talvez a conclusão seja uma forma de amenizar a decepção, dirão as psicólogas de plantão…" Aqui devo novamente dar minha humilde opinião! Concordo que não existem melhores opções, há simplesmente opções, pelo simples fato de que não dá para saber previamente quais serão os resultados daquela escolha. De qualquer forma, nenhuma escolha é 100% garantida, toda escolha implica em uma perda e todas as escolhas terão um lado bom e um ruim. A questão é que realmente não podemos voltar atrás, e sim, podemos seguir em frente, e podemos sempre fazer novas escolhas, podemos mudar, e isso é o mais bacana: a possibilidade!

Para tomar minha decisão levarei em consideração tudo o que você disse, e acrescento que, uma das razões que mais me atraem para morar sozinha é não poder culpar mais ninguém por nada, a bosta e a glória e a louça suja e a cama arrumada são todas suas!

Beijos!

Daniel Bmf disse...

Não é verdade... eu tb já larguei meus pais e não tenho a menor idéia da diferença entre arruda e manjericão!!!
Alias, qual é?

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